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Emprego cultural em Portugal 2011-2018

José Soares Neves e Ana Paula Miranda

Publicado a 28 de agosto de 2019 e atualizado a 26 de fevereiro, e a 5 de março de 2020

O Instituto Nacional de Estatística (INE) produz e divulga estatísticas do emprego cultural a partir da informação do Inquérito ao Emprego (IE). A presente atualização do indicador tem alterações significativas face à versão anterior, desde logo no primeiro ano da série que é agora 2011 e não 2008. Justifica-se assim uma nota de método mais longa e inicial.

 

O INE procedeu à revisão da metodologia para o ano de 2018 que aplicou retrospetivamente à série 2014-2017 (INE, 2019: 229-231). Até 2017, a metodologia estava de acordo com o relatório da ESSnet-Culture (European Statistical System Network on Culture) (Bina et al., 2012), e em 2018 adotou a preconizada pelo Guide to Eurostat Culture Statistics (Eurostat, 2018: 8-22). São três as principais alterações que daí decorrem: (i) foi alargado o número de atividades (CAE Rev. 3) consideradas conforme evidenciado na tabela 1; (ii) foi restringido o número de profissões (CPP 2010) como consta da tabela 2; (iii) e passou a ser considerado o emprego das profissões culturais em atividades não culturais, quando antes incluía apenas o emprego das profissões culturais e das não culturais nas atividades culturais. Como se pode observar na tabela 3, ficam de fora apenas as profissões não culturais nas atividades económicas não culturais.

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Como se pode ver no gráfico 1 o impacto da revisão é muito significativo, com um forte acréscimo de indivíduos considerados no emprego cultural e criativo ao longo de toda a série, devido à inclusão das profissões culturais nas atividades não culturais.

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Neste texto, feita esta explicitação metodológica e evidenciado o seu impacto no emprego cultural, adota-se a mais recente (do Eurostat e do INE) de acordo com o Guide to Eurostat Culture Statistics para a série 2011-2018.

 

Numa primeira análise podemos verificar que os números relativos à população empregada neste sector variam entre o mínimo de 104 mil em 2012 e o máximo de 131 mil em 2018. O número deste ano de 2018 significa um aumento de 19 mil face a 2011, o primeiro ano da série em análise, com 112 mil pessoas empregadas neste sector, e de 14 mil face a 2017 (gráfico 2).

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Embora se verifiquem algumas oscilações no período em análise constata-se uma tendência de crescimento até atingir em 2018 o número mais elevado (131 mil) da série. No conjunto dos anos considerados a média anual de pessoas a trabalhar no emprego cultural é de 114 mil.

 

Do ponto de vista da região verifica-se uma forte presença na Área Metropolitana de Lisboa (AML), Centro e Norte, em qualquer dos quatro anos, com destaque para a AML. No conjunto representam, em 2018, 92% do emprego cultural, do qual cerca de metade na AML (45%), 32% no Norte e 15% no Centro. Se tivermos em conta o tipo de emprego, a estrutura percentual mantém-se, mas acentua-se a concentração das profissões/atividades culturais na AML que representam 52%.

 

Noutra perspetiva, podemos verificar no gráfico 3 que a percentagem do emprego cultural no emprego total varia entre 2,3% (2012) e 2,7% (2018). Em 2015 e em 2018 situam-se dois picos da série (2,6% e 2,7%), sendo que neste último ano parece retomado o crescimento iniciado em 2012 e interrompido em 2016 e 2017, acompanhando aliás o crescimento do emprego total.

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Especificamente quanto ao emprego cultural, constata-se que os homens predominam em toda a série, não se verificando qualquer abrandamento desta tendência nos anos mais recentes (gráfico 4).

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Tendo em conta a idade, verifica-se uma alteração significativa quanto ao escalão que agrega o maior número de empregados: ao passo que em 2011 é o escalão 25-34 anos (com 38 mil), em 2018 é o escalão 45 e mais anos (47 mil). Por outro lado, com exceção do escalão 25-34 anos, evidenciam-se tendências de crescimento em todos os grupos etários. No dos 45 e mais anos, o número de trabalhadores aumentou de 33 mil em 2011 para 47 mil em 2018, o que representa um aumento de 42%, seguido do segmento dos 15 aos 24 anos, em que o número de trabalhadores passa de 5 mil em 2011 para 11 mil em 2018 e do segmento dos 35 aos 44

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Do ponto de vista da escolaridade é notória a tendência para o aumento no nível de qualificação superior, que passa de 54 mil em 2011 para 76 mil em 2018, em resultado da diminuição dos empregados com níveis até ao 3º ciclo que diminuem de 31 mil em 2011 (ano em que é o nível mais significativo) para 21 mil em 2018 (gráfico 6).

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Nota metodológica:

O Instituto Nacional de Estatística (INE) recolhe informação sobre a população ativa e inativa desde a década de setenta, inicialmente com o Inquérito Permanente ao Emprego, realizado semestralmente no Continente. A importância crescente de novos domínios socias, a entrada na Comunidade Económica Europeia e a necessidade de comparar resultados entre países, impôs um aperfeiçoamento das estatísticas. Foram celebrados contratos entre o Eurostat e o INE de modo a compatibilizar o inquérito nacional com o comunitário Labour Force Survey – LFS. A partir de 1983 o inquérito passou a ter a designar-se Inquérito ao Emprego, a abranger todo o território nacional (Regiões Autónomas e Continente), com periodicidade trimestral, por amostragem, com alterações ao nível da amostra, dimensão, questionário e os dados divulgados tiveram como referência as estimativas da população com base no Censos 2011 (INE, 2016: 5-6).

Em 2012, o Eurostat propôs no âmbito das estatísticas da cultura, a metodologia tal como consta no relatório da ESSnet (European Social Statistics net) Culture Statistics (Bina et al., 2012). Em 2018, a metodologia foi alterada no quadro do Guide to Eurostat Culture Statistics (Eurostat, 2018: 11) e adotada pelo INE, que atualizou no volume Estatísticas da Cultura (INE, 2019) a série 2014-2018 e, a pedido do OPAC para este texto, o período 2011-2013.

 

Empregado, “Indivíduo, com idade mínima de 15 anos, que no período de referência se encontrava numa das seguintes: a) tinha efetuado um trabalho de pelo menos uma hora, mediante o pagamento de uma remuneração ou com vista a um benefício ou ganho familiar, em dinheiro ou em géneros; b) tinha um emprego, não estava ao serviço, mas tinha uma ligação formal com o seu emprego; c) tinha uma empresa, mas não estava temporariamente ao trabalho por uma razão específica; d) estava em situação de pré-reforma, mas encontrava-se a trabalhar no período de referência.” (INE, 2011: 39).

Âmbito geográfico:

Portugal

Referências

Bina, Vladimir et al. (2012), ESSnet-Culture Final Report, Luxemburgo, ESSnet Culture e Eurostat.

Eurostat (2018), Guide to Eurostat Culture Statistics — 2018  edition, Luxemburgo, União Europeia.

INE (2019), Estatísticas da Cultura 2018, Lisboa, INE.

INE (2018), Estatísticas da Cultura 2017, Lisboa, INE.

INE (2016), Documento Metodológico Inquérito ao Emprego – 2016, versão 3.1, Lisboa, INE.

INE (2011), Documento Metodológico Inquérito ao Emprego – 2011, versão 2.0, Lisboa, INE.

INE (2011), Estatísticas da Cultura 2010, Lisboa, INE.

INE (2007), Classificação Portuguesa das Atividades Económicas, Revisão 3, Lisboa, INE.

Webgrafia

INE – Instituto Nacional de Estatística, <www.ine.pt>.

Os autores agradecem a colaboração de Teresa Saraiva (INE) na revisão das especificações metodológicas.

Como citar: Neves, José Soares e Ana Paula Miranda (2020), Emprego Cultural em Portugal 2011-2018,

Lisboa, OPAC-Observatório Português das Atividades Culturais, CIES, ISCTE-IUL.

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